CONTA E TEMPO
Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?
Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta, e não há tempo.
Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta!
Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta,
Chorarão, como eu, o não ter tempo ...
Frei António das Chagas
Escrito no séc. XVII
(Soneto publicado no caderno de Economia do semanário Expresso, de 21.10.2017, ilustrando, como é costume, o artigo de fundo de Nicolau Santos.)
1 comentário:
E, num tempo tão remoto, que bem se dava conta de um mal do nosso tempo.
Enviar um comentário