sábado, 28 de maio de 2016

Feira do Livro

Logo pela manhã e depois de uma passagem breve pelo Mercado da Ribeira, a visita ao Atelier Museu de Júlio Pomar, para ver os trabalhos (e muitos estudos) realizados pelo Mestre, com destaque para os que ilustram a sua passagem pela "nossa" Secla e pela Cerâmica Bombarralense.

Após o almoço, o ritual de todos os anos, percorrendo a Feira do Livro instalada no Parque Eduardo VII, num dia de sol que realçava ainda mais a sua beleza. 
Umas horas e uns quilómetros depois, uma cerveja bem fresquinha numa esplanada agradável, com o Tejo lá ao fundo e o Marquês a admirá-lo.

Algumas dezenas de euros a menos, mais alguns exemplares para a "biblioteca" e, de entre eles, "O Verão de 2012", de Paulo Varela Gomes, que me faltava e era dado como esgotado. Devo um agradecimento especial à senhora da Tinta da China que, à minha pergunta, retorquiu:
     - Já não restam meia dúzia ...
E lá me vendeu um exemplar da 1ª. edição e sem ser "de bolso".
Para mim e por este ano, a Feira encerrou, apesar de os descontos serem convidativos e de, das 22 às 23H, haver 50% em todos os livros.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Quotidiano

São onze e meia da noite de sábado para domingo.
No Parque D. Carlos I decorre o V Oeste Lusitano, com uma exibição de cavalos e cavaleiros, uma ginasta a mostrar quão belos podem ser os movimentos do corpo, feitos a uma altura que quase roça a folhagem dos plátanos, mais uma "sevilhana" elegante a "contracenar" com a elegância do equídeo.
As pessoas que assistem são muitas; a bancada provisória está completa e todos os espaços em volta do local das exibições estão repletos de público. Os mais baixos pouco vêem.
O miúdo terá quatro, cinco anos, no máximo. 
Agarrado às saias da mãe, reclama da injustiça de nada ver. Antes que as lágrimas disparem e os gritos aumentem, o pai, solícito, coloca-o às cavalitas. Os olhos riem-se e bate palmas de satisfação.
O pai, solícito:
     - Se te c_g_s, levas um estalo!
Brilhante!

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Livros (lidos ou em vias disso)

Tinha lido algures, já não recordo onde, que o novo livro de Jaime Rocha versava a "Escola de Náufragos" da sua Nazaré.
Fiquei curioso e não descansei enquanto não o adquiri. 
Lê-se de um folgo - 86 páginas - e o retrato das agruras da vila e da sua população está sempre presente.
Acaba assim:

"O mecânico olha para ela com compaixão. Por qualquer razão ainda gosta daquela mulher, daquele corpo que uma vez o deixou entrar na sua cama como se fosse ele o verdadeiro amor, na sombra de uma única noite.

     O que vais fazer mulher, pergunta.

     Trata dele, é teu, responde ela, entre dentes.

O mecânico ainda lhe toca nas mãos, tenta segurá-la, mas ela afasta-se do beco quase em fuga. O mecânico vê-a sumir-se, devagar, como um fantasma. Quando Mateus chega, encontra-o à sua espera.

     A tua mãe foi-se embora para sempre, vai viver para o hospital.

Mateus não acredita e não diz nada. Sorriem um para o outro. O mecânico aponta para a casa.

     Entra, diz ele.

Escola de Náufragos
Jaime Rocha
Relógio d'Água (2016)

domingo, 8 de maio de 2016

Palavras bonitas

A minha mãe faria hoje 93 anos.

Nunca mais
Caminharás os caminhos naturais.

Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa -
Para sempre está perdido
O que mais do que tudo procuraste
A plenitude de cada presença.

E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência.

Poesia
Sophia de Mello Breyer Andresen

sábado, 7 de maio de 2016

Livros (lidos ou em vias disso)

Um romance que discorre sobre a história da escravatura do século XIX ou uma alegoria dos tempos actuais?

Ainda não cheguei ao fim, mas estou a inclinar-me para a segunda hipótese ...

"(...) Criaturas mudas, já desistentes da vida, que olhavam o céu como se pedissem asas ou socorro a uma qualquer entidade altaneira. Seminus, lançavam-se ao comprido no chão, alguns a esconder o rosto daquelas multidões bizarras, brancas como os ossos dos urubus descarnados pelas formigas, com umas bocarras cheias de cuspo de onde saíam sons incompreensíveis e de arestas estridentes,
      entontecidos, assustadiços, ora com os altos brados dos capatazes, ora com os risos trocistas,
      se o velho arqueja, se no chão resvala,
ora com os horizontes apertados, onde as casas também tinham arestas e buracos como olhos
      (eram janelas)
e pálpebras
      (as cortinas)
monstruosos, que também os miravam do alto das colinas. Ninguém se entendia, as algaraviadas de vários tribos, tudo ao monte. O consenso geral é que estavam a ser escolhidos para banquete dos brancos. Por isso, iam os gordos primeiro. O casal por conta própria remexia na mercadoria, apalpava como que a separar a fruta bichada, reparava em sinais da tão virulenta varíola atrás das orelhas, procurava bubões debaixo dos braços, vestígios de escorbuto nas gengivas, (...) quando chegava a hora de apartá-los, desmantelar famílias, filhos para um lado e pais para outro, as mães acocoradas em cima das crias, entregando a carne das costas ao chicote para não as deixar levar, já a dupla de engordadores estava bem ciente do que pretendia. (...)"

Não se pode morar nos olhos de um gato
Ana Margarida de Carvalho
Teorema (2016)

domingo, 1 de maio de 2016

Paulo Varela Gomes

"Passos Perdidos" foi o seu último livro e um dos que, há dias e por ocasião do meu aniversário, me foi oferecido (a meu pedido, refira-se). Ainda não o li e confesso que estou com alguma dificuldade em pegar-lhe.
Paulo Varela Gomes, de quem li "Hotel" e "Era uma vez em Goa", faleceu ontem, vítima de um cancro.
Nasceu no meu ano e escrevia maravilhosamente, na minha modesta opinião.
A Granta número 5, de Maio de 2015, publicou um texto seu, datado de 10 de Abril e intitulado "Morrer é mais difícil do que parece", que hoje fui reler.
Lembro-me perfeitamente de, na altura, ter ficado com a "pele arrepiada". Hoje não cheguei ao fim ...