quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Prenda de Natal

No dia de Natal fui surpreendido com esta "pérola", deixada pelo meu neto GRANDE na secretária onde trabalho, sem qualquer indicação / explicação para o facto.

Coloquei o papel numa das prateleiras da estante, encostada aos livros e a um álbum de fotografias do Natal de 2013, à altura dos meus olhos quando estou sentado a trabalhar. 

Ao descobrir a mensagem, tive logo a ideia de a registar aqui. Hesitei, por não estar seguro de divulgar um texto tão íntimo e tão carinhoso. 
O papel lá permaneceu até hoje e por lá vai continuar. Fez apenas uma pequena viagem até à digitalização e regressa ao mesmo local, para emparceirar com os textos que por lá se encontram. Sim, porque é um grande escrito!


sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

TEATRO DA CORNUCÓPIA

Amanhã, após mais de 40 anos de trabalho altamente meritório, o Teatro da Cornucópia encerra, vencido pelas circunstâncias que a história julgará.

"Fomos vencidos pela filosofia de apoio às artes. Ao longo destes anos fizemos muito, mas não podemos adaptar-nos a modelos de gestão que depois dificilmente nos habituaríamos a cumprir." 

Foi desta forma eloquente e abrasiva, como é seu timbre, que Luís Miguel Cintra justificou a decisão.

Vi muitas das produções da Cornucópia e tinha (tenho) a maior admiração por Luís Miguel Cintra, em todas as suas áreas de intervenção artística, onde foi sempre grande.
Com os seus espectáculos de teatro aprendi a distinguir o teatro das "teatrices".

Obrigado à Cornucópia e a todos os que dela fizeram parte.
Para mim, fica a memória das grandes noites na Rua Tenente Raúl Cascais, ali entre o Rato e o Príncipe Real.


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

BOAS FESTAS



NATAL

Velho Menino-Deus que me vens ver
Quando o ano passou e as dores passaram:
Sim, pedi-te o brinquedo, e queria-o ter,
Mas quando as minhas dores o desejaram ...

Agora, outras quimeras me tentaram
Em reinos onde tu não tens poder ...
Outras mãos mentirosas me acenaram
A chamar, a mostrar e a prometer ...

Vem, apesar de tudo, se queres vir.
Vem com neve nos ombros, a sorrir
A quem nunca doiraste a solidão ...

Mas o brinquedo ... quebra-o no caminho.
O que eu chorei por ele! Era de arminho
E batia-lhe dentro um coração ...

Diário II
Miguel Torga
Gráfica de Coimbra (1977)

sábado, 3 de dezembro de 2016

Livros (lidos ou em vias disso)

"Para aquela que está sentada à minha espera" é o último romance publicado por António Lobo Antunes. Na contracapa é transcrita, parcialmente, uma nota publicada no El País:

"Um autor com uma facilidade prodigiosa para enlaçar obras-primas, que dentro de cinco mil anos, em argila ou em pó de estrelas, continuarão a ser lidas com paixão."

É com paixão que leio os seus livros e este confirma a regra (como se isso fosse preciso).

"(...) da mesma forma que a língua regressa sozinha, teimosa, autónoma, ao buraco de um molar medindo-lhe o tamanho e aguardando a dor que ainda não veio mas há-de chegar um dia, há sempre um dia em que chega, de súbito a meio da noite o despertar em sobressalto com uma agulha no queixo, nenhum dentista acordado àquela hora, todos a dormirem felizes, o mundo cheio de dentistas a ressonarem em paz os estafermos, tocar meia hora à campainha sob a cruz verde que acendia e apagava da farmácia de serviço mais próxima na realidade longíssimo, uma rua deserta onde dúzias, centenas, milhares de afortunados dormiam em paz igualmente e um cachorro fugido sabe-se lá de que sítio o mirava a rosnar, um sujeito fechou a bata ao calhas por cima do pijama e informou-o despenteado, numa voz que se mastigava a si mesma chupando os rebuçados das sílabas, que não vendiam os comprimidos para o sofrimento sem receita médica, o sobrinho do meu marido não de bata claro, de sobretudo sobre a camisola interior foi-se embora vencido enquanto a porta lhe estoirava nas costas e o cão num semicírculo assassino se ia aproximando dele que felizmente conseguiu trancar-se no carro, ao chegar ao apartamento nenhuns passos, nenhuma voz a acompanhá-lo, sentou-se na cama e levantou-se logo porque o cheiro dos lençóis e o cheiro de si mesmo nos lençóis lhe repugnavam, o dele sozinho diferente do dele acompanhado, a Artemisa na cozinha 
        - Não te separas dela pois não?
       o sobrinho do meu marido
        - Claro que separo mas temos que chegar a acordo sobre os catraios e o resto
quando não haviam falado em acordo nenhum, por enquanto advogados, discussões, propostas, códigos com papelinhos amarelos metidos nas páginas de que lhe liam fórmulas tremendas, pensões, partilha da casa, faqueiro, as duas ou três jóias da mãe que a mulher do sobrinho do meu marido esqueceu, (...)

Para aquela que está sentada à minha espera
António Lobo Antunes
D. Quixote (2016)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Imagine

Com o Natal a chegar e o mundo cada vez mais a complicar. é bom recordar ... a mensagem de um sonhador.
"(...)
You may say, I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one.
John Lennon (1971)