domingo, 24 de junho de 2012

Netos

O Duarte chegou!

Calmamente, como se esperava, o meu terceiro neto aguardou que o avião trouxesse o pai de regresso, permitiu que o avô saboreasse um almoço na sua futura casa, deixou os pais darem um passeiozito à Foz para descomprimir e, ao cair da noite, ei-lo neste mundo para fazer a felicidade de todos nós.

Veio no dia de S. João, sem arquinhos nem balões, mas com a festa a que tem direito e merece.

No final de um dia cheio de emoções, que amanheceu com a filha no hospital e o filho no avião, sabe bem receber uma notícia destas ... e o coração aguenta!


terça-feira, 19 de junho de 2012

Livros (lidos ou em vias disso)

Não conhecia, nem sequer de nome.

Na visita à Feira do Livro deste ano, uma pequena nota na capa despertou-me a curiosidade: "Sem dúvida o maior romancista vivo de Espanha - António Lobo Antunes".

A sinopse da contracapa confirmou o impulso e comprei Rabos de Lagartixa, de Juan Marsé.

Li, fascinado, uma estória atribulada, passada nos finais dos anos quarenta, com o fim da 2ª. Grande Guerra ainda fresco e a ditadura de Franco em pleno.

Um adolescente imaginativo, travesso e artista, um bebé a reflectir no útero de uma mãe bela e ruiva, um polícia casmurro e apaixonado, um cão velho, rabos de lagartixa com propriedades terapêuticas, um pai anarquista, perseguido, idealista e metafórico e muito, muito mais.

"(...) no meio da circulação inclinada e pesarosa das pessoas, aquela menina que parece ter-se apropriado de todas as cores e fulgores do dia pára um momento e consulta o seu relogiozinho de celulóide com números amarelos e ponteiros de purpurina. O mostrador é celeste e a pulseira que lhe cinge o pulso é de cor violeta transparente com franjas amarelas. Porque olhas para ele, irmão, se sabes que os números mentem e os ponteiros são pintados e marcam sempre a mesma hora, uma menos um quarto? Consultas o teu relógio de pacotilha para fingir que és uma pessoa ocupada, alguém com certa pressa de chegar a um encontro importante?(...)"

Rabos de lagartixa
Juan Marsé
D. Quixote (2011)

terça-feira, 12 de junho de 2012

E o futuro é hoje ...

Porque vale a pena preservar, para memória futura, quando a história julgar os "vendilhões do templo" e os vindouros verificarem que, apesar de tudo, houve alguns dos nossos melhores que não calaram, não foram subservientes nem politicamente correctos, e usaram a liberdade, clamando de forma clara que o rei deste neoliberalismo que nos entra pela casa dentro todos os dias afinal vai nu e que só conseguiremos sair deste atavismo se valorizarmos e utilizarmos o conhecimento, a educação, a cultura, a ciência, para seguirmos em frente.

Que grande aula deu o Professor Nóvoa para a nossa história e para que os meus netos não tenham vergonha do país onde nasceram.



"(...)Mesmo na noite mais triste, em tempos de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não(...)" (Manuel Alegre - Trova do Vento que passa)

sábado, 2 de junho de 2012

Troika

As referências que por aqui tenho deixado sobre Miguel Sousa Tavares (que não conheço nem sequer de uma pequena festa de anos, como o outro) demonstram o meu apreço pelo escritor, pelo jornalista, pela forma como escreve, pelo desassombro com que assume as suas opiniões e pela intransigência que mantém na defesa da liberdade e da justiça.

Na semana em que, finalmente, a lenta justiça lhe reconheceu razão no processo movido contra uns energúmenos que panfletaram "notícias" segundo as quais haveria partes plagiadas no Equador, MST publica mais uma excelente crónica no Expresso, da qual respigo dois parágrafos:

"(...) Que o trio formado pelo careca, o etíope e o alemão ignorem que em Portugal se está a oferecer 650 euros de ordenado a um engenheiro electrotécnico falando três línguas estrangeiras ou 580 euros a um dentista em horário completo é mais ou menos compreensível para quem os portugueses são uma abstracção em matemática. Mas que um português, colocado nos altos círculos europeus e instalado nos seus hábitos, também ache que um dos nossos problemas principais são os ordenados elevados, já não é admissível. Lembremo-nos disto quando ele por aí vier candidatar-se a Presidente da República.

(...) Tenho muitas mais ideias, algumas tão ingénuas como estas, mas nenhumas tão prejudiciais como aquelas com que nos têm governado. A próxima vez que o careca, o etíope e o alemão cá vierem, estou disponível para tomar um cafezinho com eles no Ritz. Pago eu, porque não tenho dinheiro para os juros que eles cobram se lhes ficar a dever."