sábado, 27 de agosto de 2011

Percebes


Percebes, agora, porque são caros os percebes?

MAMAOT

Num país onde as siglas proliferam e os neologismos e as misturas linguísticas são constantes, mencionar, em voz alta, a sigla do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território - MAMAOT - pode dar lugar a dúvidas sobre o que se pretende identificar ou transmitir. 
Sendo a pronúncia rigorosamente igual para MAMAOT ou MAMA HOT, já o significado, considerado o inglesismo arrevesado na última expressão, é bem diferente.
Para além de enorme, o Ministério de Assunção Cristas também será "quente"?

domingo, 21 de agosto de 2011

O celeiro

A vida naquele celeiro era qualquer coisa de sonho!
Os ratos que nele habitavam deleitavam-se com a variedade e a qualidade dos cereais que lá eram armazenados e que proporcionavam lautos banquetes.
Bem nutridos, os ratinhos apenas comiam, dormiam e ... reproduziam-se. Cada vez eram mais, e mais felizes!
Um dia (há sempre um dia) surgiu no celeiro uma criatura estranha, bem maior, mais peluda, que também se deslocava a quatro patas, bem diferentes e assustadoras. Cada uma delas tinha umas garras, afiadas, retorcidas,  de fazer arrepiar o pelinho sedoso de qualquer ratinho ou ratão. Ainda por cima, a criatura trazia cara de poucos amigos ... inspeccionou, cheirou, decerto detectou o que procurava, retirou-se sem sequer mostrar curiosidade pelos esconderijos que as sacas empilhadas ofereciam.
Os ratos, em pânico, convocaram uma reunião de emergência para discutirem o problema que, já se adivinhava, havia chegado. A sua vida corria perigo, a sua subsistência estava em causa, o sossego ia terminar. 
Encontrar uma solução era urgente e instante!
Constituída a mesa que iria conduzir os trabalhos, a participação dos ratinhos na assembleia surgiu ordeira, preocupada e civilizada.
- Juntamo-nos todos, montamos uma emboscada e liquidamos o gato, disse um.
- Nem pensar! Somos civilizados, fiéis ao respeito pelos outros, ordeiros, dialogantes, não somos vândalos, muito menos assassinos, argumentaram, com veemência, os dois oradores seguintes.
- Pregamos-lhe um valente susto!
- E quem nos garante que ele não volta a seguir?
Foram inúmeras as intervenções, nenhuma apresentou qualquer solução. O desespero já se apoderava da assembleia, o medo era comum a todos, a corrida às ideias era vertiginosa.
Acabaram os oradores inscritos e o silêncio na sala era ensurdecedor.
Um rato mais maduro, tido como ponderado, inteligente e sabedor, pediu a palavra.
- Encontrei a solução! 
A voz era pausada, persuasiva e concitou a atenção de toda a assembleia.
- Colocamos um guizo no gato e o seu tilintar avisar-nos-á com antecedência, permitindo-nos fugir para os esconderijos sem correr quaisquer riscos.
- Bravo, excelente, brilhante, foram alguns dos muitos adjectivos com que a assembleia brindou o orador, para além de uma chuva de aplausos de "deitar o celeiro abaixo".
Solução encontrada, prepara-se o presidente para a última intervenção, na qual brindaria os presentes com os agradecimentos do costume, e daria por encerrados os trabalhos, não sem antes salientar a forma ordeira como tinham decorrido e a aclamação com que tinha sido aprovada a proposta do meritíssimo rato. Não se podia esquecer de convidar todos os participantes a retemperarem as forças depauperadas com uma boa dose dos excelentes cereais que ali se encontravam à disposição de todos e de cada um. 
Ajeitou a compostura, pigarreou para aclarar a voz, mas, lá do cantinho do fundo e com uma voz tremida pelo nervoso habitual de quem fala em público pela primeira vez, um jovem ratinho levantou a medo a pata direita, pedindo a palavra.
- Senhor presidente! Também eu aplaudi a ideia brilhante que acabou de ser aprovada e aclamada, e que, por certo, o senhor secretário já registou na acta. Permita-me, contudo, uma pergunta.
- Meu caro, pergunte o que quiser, retorquiu, solícito, o presidente.
- Quem vai colocar o guizinho no pescocinho do gato?

Moral da história - É fácil dizer que se faz, mas é tão difícil fazer!
Entre o celeiro e o país "vai o passo de um anão".

domingo, 7 de agosto de 2011

Cidadania

A Fundação Francisco Manuel dos Santos, que António Barreto dirige (vale a pena espreitar o seu blog pessoal  aqui), tem vindo a publicar uns "livrinhos" com estudos, ensaios e opiniões sobre os mais diversos temas, da educação às finanças, da autoridade à estatística, passando pelas sondagens, pela corrupção e pela justiça. 
Já foram editados 18 volumes, que podem ser adquiridos no Pingo Doce, a 3,15 Eur cada.
A última publicação é da autoria de Maria Filomena Mónica e versa a morte e a forma como com ela se lida. Partindo da doença da mãe, vítima da doença de Alzheimer em 2006, a autora discorre sobre conceitos éticos, morais, científicos, religiosos. Analisa-os sobre a perspectiva histórica, ilustra a argumentação com casos reais, convida/desafia à discussão, serena, sobre temas tão actuais quanto o são a eutanásia, o testamento vital, o suicídio assistido, a dignidade a que temos direito, a vontade manifestada e ausência dessa manifestação e muito, muito mais.
O tema não será fracturante na sociedade mas é, seguramente, demasiado importante para ser deixado nas mãos da demagogia e do cinismo. 
Imprescindível ler.

Palavras bonitas

UM DIA
 
Um dia, mortos, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.
O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados, irreais,
E há-de voltar aos nossos membros lassos
A leve rapidez dos animais.
Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais, na voz do mar,
E em nós germinará a sua fala.

Dia do Mar
Sophia de Mello Breyner Andresen
Caminho (2005)