quarta-feira, 30 de maio de 2007

Livros (lidos ou em vias disso)

" ... Na cabeça de Laura. Na sua cabeça viaja, doce, segue fluída a tranquilidade de não pertencer. Nenhuma expectativa, nenhuma angústia. Assim dita, uma paz.
Porque vive numa calma ausência de si. ..."

Um livro de imagens ou um filme de palavras?

Talvez um quadro da vida, actual, pintado de forma abstracta, com cores tão reais que os factos entram pelos olhos dentro. Um rigor descritivo impetuoso, que nos transporta para o interior da história e nos faz sentir parte nela.
Parece tão fácil!


Mulher em branco
Rodrigo Guedes de Carvalho
D. Quixote (2006)

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Vida ?!

O filho morreu num acidente de automóvel, na madrugada do final de mais um turno na área de serviço onde trabalhava. Deixou-lhe uma neta, com três anitos, que mal conhece a mãe e nunca mais verá o pai. O marido não anda nem fala há dezasseis anos, vítima de duas tromboses.
... em dois dias seguidos, veja lá ... o meu filho ajudava a dar-lhe banho. Agora, falei a um homem para me lá ir ajudar, ao Domingo ... nos outros dias, tenho de o lavar na cama.
A reforma do marido são pouco mais de 300,00 Euros.
... poucochinho, mas tem de chegar ... trabalho de manhã em casa de uns senhores, que são muito meus amigos ... à tarde, passo-lhes a roupa ... vão pô-la lá a casa, que eu não a conseguia levar ... são muito meus amigos.
Já pagou metade do funeral, com algum que tinha e uns "trocos" do filho.
... talvez consiga pagar o resto até Agosto.
A vida é madrasta, balbuciei.
A comoção já era visível no vidrado dos olhos de ambos.
... assim que vier o resultado da autópsia, venho cá entregar-lhe.
Pois ... sem isso, o seguro não resolve nada.
... muit'obrigada, bom dia .. até à próxima.
Bom dia ??????????
Não é ficção! Aconteceu-me, hoje!

terça-feira, 22 de maio de 2007

Reflexão

Dicionário Porto Editora
CHARRUA - arado grande com um jogo de rodas adiante e uma só aiveca; antigo navio de três mastros, de grande porão, destinado ao transporte de tropas, víveres, munições, etc.; agricultura; navio ou automóvel ronceiro.
Dos jornais
CHARRUA - professor castigado pela Directora Regional de Educação do Norte por ter brincado, gozado, gracejado, zombado do Primeiro Ministro José Sócrates.
Não se acredita! É inverosímil!
Só pode ser piada de mau gosto, imaginação fértil de quem divulgou a notícia ou confusão com algo parecido acontecido num "Burkina Fasso" qualquer.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Aprender e saber









Há muitos, muitos anos, tive um professor que dizia, com alguma frequência que "quanto mais sabemos, mais ignorantes somos".

Perante a perplexidade do aparente paradoxo, ilustrava, no quadro ou no primeiro papel disponível, o seu ensinamento, desenhando, primeiro, uma pequena circunferência, na qual colocava dois raios que formavam um quarto de círculo. De seguida, desenhava uma nova circunferência, bem maior do que a primeira, e nela inscrevia, também, um quarto de círculo.

As circunferências ilustravam a dimensão dos campos de conhecimento, os quartos de círculo, a nossa sapiência (!?) e a conclusão era óbvia: à medida que o campo de conhecimento aumentava, o saber era maior, mas a área do desconhecido aumentava muito mais, verificando-se, de ciência certa, que o saber completo é inatingível e que, todos os dias, em todas as áreas, encontramos alguém que sabe alguma (muita) coisa que ignoramos.

Síntese: Aquele que pensa que sabe tudo, não é sapiente, é "sabão": meia dúzia de "lavadelas" e o "sabão" derrete-se.

Coisas bonitas

Palavras, imagens, música, voz, uma infinidade de coisas bonitas

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Dia da Cidade


O TOMA vai ser inaugurado amanhã, com a pompa e a circunstância costumeiras dos Dias da Cidade.
Este ano, para além do TOMA, as distintas autoridades inaugurarão a nova sede da Associação de Municípios e, salvo qualquer imprevisto de última hora, não procederão à abertura de qualquer rotunda.
O TOMA vai ser o novo transporte colectivo da cidade, servido por pequenos e atraentes autocarros, de cor azul, os quais, em duas linhas - verde e laranja - cobrirão quase todo o núcleo urbano da cidade, incluindo a totalidade da Rua Heróis da Grande Guerra, recentemente fechada ao trânsito.
Ora TOMA!

quinta-feira, 10 de maio de 2007

O António a dar corda à esperança

António Lobo Antunes, hoje, em mais uma belíssima crónica da Visão: "(... )Abandonei o livro em que trabalhava há sete meses (sete meses de doze horas por dia para o galheiro) porque não posso, por um lado, escrever antes de voltar a ser eterno (quando não estamos doentes somos eternos)
e por outro o meu mundo interior alterou-se de tal jeito que sou um homem diferente, e o homem que sou não pode continuar a prosa de um estranho. Fará prosa sua, necessariamente diversa. Uma parte minha segue às voltas com o imenso sofrimento pelo qual passei e me atormenta ainda, me dói ainda, me impede ainda a disponibilidade completa que um
(ia a dizer romance mas não são romances o que faço)
exige e consolo-me pensando nos dezanove livros que até hoje escrevi e chegam bem para me justificar a existência. Acrescentar-lhes-ei alguns mais? Sempre estive certo que sim, hoje não sei.
(...)"

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Opinião

Se fosse eleitor em Lisboa, subscrevia a candidatura e votava na Arq. Helena Roseta para Presidente da Câmara da capital do meu País.
Guardo na memória uma mulher de botins, a comandar as operações nas cheias de Cascais, já lá vão uns bons anos, e admiro a coerência e a frontalidade.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Palavras bonitas

Uma mulher a cantar
de cabelo despenteado.

(Era o tempo das gaivotas
mas o mar tinha secado.)

Pelos seus braços caíam
frutos maduros de outono,

pelas pernas escorriam
águas mortas de abandono.

(Uma criança juntava
o cabelo destrançado.)

Gaivotas não as havia
e o mar tinha secado.

Poesia
Eugénio de Andrade
Fund. Eugénio de Andrade (2005)

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Medo

O ciclo das estações do ano não deveria estar dependente do calendário da natureza e sim das necessidades dos seres humanos, em função das variações do seu estado de espírito.
Nesta altura, em que a Primavera já poderia estar bem instalada e a anunciar o Verão, aparecem uns sinais invernosos, que acabam por acentuar a depressão, o mau humor, a tristeza, e o pessimismo que, diariamente, vamos encontrando nas pessoas com quem se conversa um pouco.
Os comerciantes lamentam a diminuição das vendas e culpam as grandes superfícies, catedrais do consumo; os industriais queixam-se da concorrência desleal da China e do Leste e da falta de rumo do país; os empregados por conta de outrém vão pagando os impostos, o carro e a casa e constatam que o seu emprego é, cada vez mais, um estado de graça que pode terminar a qualquer momento. Verificam, ainda, que o aumento da taxa de juro se vai fazendo convidado regular nas suas refeições e se prepara para se tornar hóspede definitivo e comilão.
Entretanto, na Visão desta semana, o filósofo José Gil, termina o seu ensaio sobre o medo da seguinte forma:
"... O medo encolhe os cérebros, reduz o espírito, fecha os corpos. Está-se a formar um clima de medo. E o medo tem a particularidade de alastrar. Ao medo social de perder o emprego, de não subir na carreira, de perder as pensões, de não aguentar tanta pressão e constrangimento em tantos domínios, junta-se agora o medo de protestar, de falar, de se exprimir. O medo social está a tornar-se político: tem-se medo do Governo, e, talvez, um dia, do primeiro-ministro."
As encruzilhadas apresentam sempre vários caminhos alternativos, mas o retrocesso nunca será o futuro!