terça-feira, 26 de novembro de 2013

Livros (lidos ou em vias disso)

"(...) Badini disse que as coisas mortas vão com a água, naturalmente, seguem a corrente do rio, é isso que fazem os paus, as pedras, as folhas, os cadáveres, todos são empurrados para a foz, todos eles, enquanto os sábios e os salmões procuram a nascente, as causas das coisas, e, assim, tudo o que contraria a corrente está vivo, e a educação também é isso, é ir contra tantas coisas, não nos deixarmos arrastar para não nos tornarmos um pau seco a boiar nas águas. (...)"

Afonso Cruz
Para onde vão os guarda-chuvas
Alfaguara (2013)

domingo, 24 de novembro de 2013

Estranho


A descrição matricial acima reproduzida é de um terreno situado no distrito de Santarém, inscrito no Serviço de Finanças em 1970 como "terra de pousio com 2 oliveiras e dois carvalhos estranhos".
Não há nada de estranho no facto de uma terra de pousio ter 2 oliveiras e 2 carvalhos, mas já é muito estranho que os carvalhos sejam estranhos e ainda mais a razão pela qual assim terão sido classificados.
Não sendo provável que exista ume espécie biológica de carvalhos estranhos, estranho é o facto de assim terem sido classificados, para a posteridade e para a fiscalidade, dois seres que habitam o distrito de Santarém, talvez contra a própria vontade ou a vontade dos seus vizinhos.
- Serão estranhos por terem vindo de outras paragens sem ninguém saber de onde e sem serem convidados? 
- Terão algum defeito visível que cause estranheza a quem olha? 
- Algum "maduro" por ali os plantou sem cuidar de falar com as autoridades competentes?
- Terão comportamentos esquisitos?
- Usarão roupagens diferentes?
- Darão bolotas quadradas?
Poder-se-ão admitir e conjecturar milhentas hipóteses, mas que é estranho existirem 2 carvalhos estranhos numa terra de pousio com 2 oliveiras normais, não há qualquer dúvida.
Não é estranho, é estranhíssimo ...

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Língua portuguesa

O desenvolvimento frenético que o mundo regista obriga a que todos estejamos atentos ao que se passa à nossa volta, na procura da actualização constante das vertentes profissional e/ou pessoal, sendo certo que, por maior que seja o esforço, o saber há-de ser sempre infinito.

A actualização desse "saber" está na ordem do dia e há especialistas que se dedicam à causa de "alma e coração", debitando a sua sapiência salpicada de "inglesismos" e com a ajuda do inevitável "powerpoint".

Eis senão quando "no melhor pano cai a nódoa" … e aquilo que parecia uma aula bem estudada e alicerçada num saber motivador, transporta a "conjectura" do país como um facto bem interessante de seguir na conjuntura da formação, conjecturando quantas vezes a "conjectura" irá estar presente no lugar da conjuntura, que primou pela ausência.

Contei várias!

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Recordando

Partiu hoje, após longo tempo de sofrimento, o meu amigo Zé Marques Paulo.
Companheiro de muitas lides, das noites de king aos rallys paper, das viagens pela Europa às experiências nas rádio "pirata", no futebol ou no vólei, nas histórias vividas e inventadas, ou nas recordações do Porto da sua meninice.
Amigo sempre preocupado com os outros, descuidando-se muitas vezes de si próprio, adorava os meus filhos e … "quem meus filhos beija, minha boca adoça".
De pensamento livre, a puxar para a anarquia, amante da Pátria, que venerava, dono de uma cultura invulgar, que não exibia.
Era … diferente!
Fico a dever-lhe muitos e bons momentos e guardá-lo-ei na memória como ele gostava: vivo, franco, amigo, alegre e … meio tonto!

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Quotidiano ou a falta de imaginação

Na passada quarta-feira, Paulo Portas debitou uma quantidade apreciável de palavras vazias de conteúdo, que deram a sensação de se estar perante uma "mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma" nas cem páginas (Marques Mendes apostou em 90 e falhou) que demoraram quase um ano a vir à luz e trouxeram a certeza de que, concluo eu, a reforma do Estado está tão perto de acontecer quanto a minha.
Ontem, como sempre, uma espreitadela apressada na Visão (a leitura vai ser no fim de semana) para ver/ler a crónica habitual de António Lobo Antunes - Um Dó Li Tá, uma delícia:

"(...) Existe um bando de meninos, a quem os pais vestiram casaco como para um baptizado ou um casamento. Claro que as crianças lhes acrescentaram um pin na lapela, porque é giro
- Eh pá embora usar um pin?
que representa a bandeira nacional como podia representar o Rato Mickey
- Embora pôr o Rato Mickey?
mas um deles lembrou-se do Senhor Scolari que convenceu os portugueses a encherem tudo de bandeiras, sugeriu
- Mete-se antes a bandeira como o Obama
e, por estarem a brincar às pessoas crescidas e as play-stations virem da América, resolveram-se pela bandeirinha e aí andam, todos contentes, que engraçado, a mandarem na gente
- Agora mandamos em vocês durante quatro anos, comem a sopa toda em lugar de verem os Simpsons.
No meio dos meninos há um tio idoso, manifestamente diminuído, que as famílias dos meninos pediram que levassem com eles, a fim de não passar o tempo a maçar as pessoas nos bancos, de modo que o tio idoso, também de pin
- Ponha que é curtido, tio
para ali anda a fazer patetices e a dizer asneiras acerca de Angola, que os meninos acham divertidas e os adultos, os tontos, idiotas. Que mal faz? Isto é tudo a fazer de conta.
Esta criançada é curiosa. Ensinaram-me que as pessoas não devem ser criticadas pelos nomes ou pelo aspecto físico mas os meninos exageram, e eu não sei se os nomes que usam são verdadeiros: existe um Aguiar Branco e um Poiares Maduro. Porque não juntar-lhes um Colares Tinto ou um Mateus Rosé? É que tenho a impressão de estar num jogo de índios e menos vinho não lhes fazia mal. (...)

Vale a pena ler a crónica completa mas, para isso, comprem a Visão.